Com o tecido, a linha e uma agulha, tudo bem marcado com a ajuda de uma fita métrica, tomando cuidado com o alfinete e a tesoura, as tiaras e os laços confeccionados manualmente vão ganhando forma na oficina realizada pela Associação dos Amigos e Pais de Pessoas Especiais (AAPPE). A iniciativa foi além de uma simples atividade para ocupar a mente e o tempo ocioso de algumas usuárias, e se transformou em uma alternativa para aquelas que buscavam por uma fonte de renda extra.
Foi assim, através do incentivo para usar a sua criatividade, que dona Clarice conseguiu voltar ao mercado de trabalho, desta vez como autônoma, graças ao que aprendeu na oficina de laços e tiaras da instituição. “Eu fiz a primeira vez, deu errado, fiz a segunda vez, também deu errado, então eu fiz uma terceira e depois de todas as tentativas a professora me pediu que eu fizesse sozinha pra saber se eu seria aprovada. No final, só três mulheres passaram, e eu fui uma delas”, contou.
A oficina foi ministrada pela estagiária de Serviço Social da AAPPE, Érica Vanessa. Ela informa que fazia parte das etapas do seu estágio a realização de um momento de intervenção com os usuários. “Então, a minha proposta para os usuários foi diminuir a ociosidade, estimular a aptidão e, de uma maneira informal, ter alternativas para a geração de renda deles”, explica.
No projeto nomeado por “Geração de renda: trabalhando fazendo laços e tiaras” foram disponibilizadas 45 vagas, divididas em três turmas, com aulas realizadas as terças, quartas e quintas-feiras. “A oficina tinha 40 minutos de duração para contemplar as mães dos usuários da reabilitação intelectual e, enquanto eles estavam em terapia, as mães e avós estavam na oficina junto a mim, sempre de forma organizada para não atrapalhar as terapias”, relatou Érica.
A habilidade manual recém-descoberta ajudou dona Clarice a empreender, transformando a simples atividade em fonte de renda que vem ajudando a complementar a renda em sua casa.
“Quando teve o encerramento [do curso], ela [a professora] deu a cada uma que foi aprovada uma tiara e um laço. Eu os deixo em casa, porque quando eu percebo que tem algo de errado nos que estou fazendo, eu os uso como base. Eu nem vendo e nem dou, é uma observação e algo especial pra mim. Hoje é a minha fonte de renda. Eu fui investindo em vários modelos, tanto que das 12 tiaras que eu já fiz, restaram apenas duas. Quando a gente investe em uma coisa e percebe que dá certo, nós vamos em frente”, disse dona Clarice.
Para Érica o serviço social na AAPPE tem como principal objetivo garantir os direitos dos usuários, contribuindo para a consolidação da inclusão social e ampliação da cidadania. “Esse projeto de intervenção foi para estimular a autonomia das famílias em relação à renda familiar, propondo como foco um trabalho alternativo, bem como uma perspectiva de construir sua própria história. Fico muito feliz em ver o projeto dando certo, mudando a visão das usuárias, indo além de suas limitações”, finalizou.